Alguns o conheciam por 'Pesadelo', outros por 'Wallifer', mas a grande maioria pelo nome de Tiago. Estamos falando de um morador em situação de rua que ficava sempre em frente ao banco Itaú Personnalité, na Avenida Praia de Belas, no bairro Menino Deus e que estava sempre acompanhado de seus cães, animais de rua que ele adotava e cuidava sempre muito bem.
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Foto: Reprodução / Redes Sociais |
Simpático e muito educado, 'Tiago' passeava pelo bairro sem incomodar ninguém. E todos que o conheciam ou o avistavam com frequência, sabiam que os cachorros eram sua maior paixão.
Em março de 2021, 'Tiago' faleceu vítima da covid-19 e seus cães passaram a ser cuidados por moradores do bairro, que ficaram sensibilizados com a situação.
Não há uma foto ou vídeo sequer, que comprove estas denúncias. Nem mesmo imagens de câmeras de segurança. Simplesmente implicavam com o guri! Uma vez cheguei a ouvir de uma mulher, que se fosse preciso, ela diria que ele a assaltou, só pra tirarem o guri dali. Fico chocada com isso! — desabafa Aline Santos.
Uma foto de 'Tiago' ao lado de seus cães viralizou no Facebook. Ele havia improvisado pequenas camas para os cães dormirem. Na mesma foto, 'Tiago' aparece sentado no chão, observando orgulhoso os seus pets.
Esta foto já foi vista por milhões de pessoas ao redor do mundo, com diferentes legendas e em vários idiomas e queremos a sua ajuda para encontrá-la.
Se você for o(a) autor(a) da foto ou conhece quem a registrou, por gentileza, entre em contato com o Jornal do MD, clicando aqui.
Através desta única foto, será possível localizar boa parte deste conteúdo compartilhado nas redes.
Texto de Julio Ritta, do projeto Cozinheiros do Bem, a respeito da morte de Tiago
Notícia triste!
Vou contar um pouco da minha história com o "Pesadelo", também chamado de "Wallifer", mais conhecido como Tiago, que tinha a Avenida Praia de Belas como uma das suas “casas”.
Era o dono da Amarelinha e do Negão. Seus bichinhos sempre bem tratados. Conheci ele quando me mudei para a zona sul e sempre que descia no Praia de Belas, vindo do centro para pegar o Juca Batista, ele já vinha direto em mim e gritava: “Gordoooo, consegue algo pra gente comer?”
Sua preocupação, sempre antes dele, era com seus bichinhos. Um dia resolvi levá-lo comigo no Nacional do Shopping Praia de Belas para comprar algumas coisas e com o intuito de me apresentar para ele. Naquele dia ele parou de me chamar de gordo e virei o "Fofo" hehehehe. Ele não conseguia decorar o meu nome nunca e isso nunca foi um problema para que eu gostasse dele. Nesse dia, na saída do shopping um segurança veio e nos abordou, eu claro, com mais cara de maloqueiro que ele escutando aquele cara tosco dizendo “não quero saber de vocês comendo fazendo sujeira aqui na frente com esses cachorros”. Coitado, pegou eu pela frente. Não vou nem contar o que eu disse pra esse cidadão mas quem me conhece tem ideia de como fico quando vejo alguém destratando uma pessoa em situação de rua. Ali eu virei o salvador da pátria do Pesadelo/Tiago e foram anos nessa vibe de encontros. Eu descia, ele já sabia a hora e me esperava ali mesmo quando muito doido sabendo que entraríamos no super e ele teria algo para os três. Quando eu tava apertado de grana, levava algo de casa de manhã cedo e na volta à noite quando o encontrava entregava, não falhava.
Quando criamos a ação do Cozinheiros do Bem no viaduto Dom Pedro I, tive a oportunidade de saber mais da sua história. Sobre seus corres, a vida dura nas ruas, as vezes que apanhava da polícia e que ele chegava quebrado não foram poucas, mas sempre sempre, sempre com um sorriso no rosto. Cara, como tinha gente que falava mal dele, que ele era ladrão de varal, que ele abusava dos animais e por aí vai. Eu conheci ele de perto, eu sei que era mentira mas sempre também alguém aparecia com uma história caluniosa dele. Comigo, com meus filhos e com os voluntários do CdBFF, sempre um amor de pessoa.
Hoje fiquei sabendo da sua partida. Não há registro em hospitais, não será noticiado na mídia e nem número ele vai virar nessa cruel estatística que com certeza já ceifou muito mais vidas do que realmente se divulga. Morador de rua não vira número, vira história. História que logo se apaga e assim tratamos a passagem de seres humanos como nós.
Que encontre a paz que por aqui não tivestes meu querido amigo e que enfim sejas acolhido com igualdade.
Sentirei falta dos nossos assistidos encontros onde só falávamos m3rd4 e dávamos risadas.
Daqui, seguirei rezando por ti e lutando por tantos outros Tiagos. Vai em paz meu querido!
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